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Armin Linke

Armin Linke

Um espelho da educação visual de cada um

Muito se fala em interação na arte contemporânea, mas poucos são os casos em que a teoria passa a ação tão completamente como no projeto Phenotypes Limited Forms, desenvolvido pelo artista plástico italiano Armin Linke em parceria com o belga Peter Hanappe e o laboratório de pesquisa Sony em Paris.

A magia do processo está baseada num raciocínio básico da lingüística, que é o trabalho da construção de uma língua em dois eixos: o vertical (chamado de paradigmático) e o horizontal (sintagmático). É da articulação de ambos que se realiza desde uma simples frase a uma complexa linguagem artística.

O eixo paradigmático aparece na seleção. No presente caso, Linke coloca em prateleiras 700 fotos. Com luvas brancas, para não danificar as imagens, o visitante da instalação escolhe oito imagens. Em seguida, num diálogo com a sintaxe, cada pessoa as coloca na ordem que deseja vê-las impressas.

Graças a um sistema touchscreen, o computador identifica as preferências feitas e ainda propicia ao público a oportunidade de selecionar um título. É estabelecido então um pequeno livro pessoal que cada um leva para sua casa. Existe ainda a possibilidade de saber com quais livros, entre os 50 mil já feitos,  a opção se relaciona.

O projeto coloca em questão alguns princípios básicos da arte. O primeiro está nas preferências manifestadas ao retirar as oito imagens. Isso significa deixar de lado outras 692. Os critérios dessas alternativas são absolutamente pessoais, associados às memórias íntimas e aos percursos individuais.

Isso é ressaltado inclusive pelo fato de existir nas prateleiras retratos, paisagens, fotos de cidades, imagens de pessoas desconhecidas e também de artistas célebres, além dos mais diversos locais, tanto da Itália como da Suíça e dos EUA. Verificar o que está dentro de um livro pessoal é o resultado de um percurso estético próprio.

No universo do sintagma vem a disposição das oito imagens selecionadas por alguma espécie de paradigma. A seqüência estabelecida por cada um também diz muito do que pensa cada indivíduo. Mesmo que se diga que a ordem é aleatória, é criado um raciocínio quando as imagens são colocadas sobre a mesa para definir a ordem de impressão.

No cruzamento realizado entre o paradigma (seleção inicial) e o sintagma (seqüência), estabelece-se a fantasia que a instalação de Armin Linke gera. Trata-se de um jogo revelador do poder de selecionar e de trabalhar com as mais variadas imagens para realizar um pequeno livro que, pelas escolhas feitas, é o espelho da educação visual de cada um.