artistas

Antonio Lizárraga

Antonio Lizárraga

A arte da simetria

Cor, linha e espaço são as palavras-chaves do trabalho do artista plástico argentino Antonio Lizárraga. Nascido em Buenos Aires e radicado no Brasil desde o final da década de 1950, desenvolve uma das trajetórias mais coerentes em termos de uma pesquisa formal que não tem assuntos externos, a não ser a própria arte.
  O fato de ter sido, em 1983, vítima de uma trombose que lhe causou paralisia de pernas e braços, ao contrário de lhe trazer limitação criativa, como se poderia imaginar,  o levou a desenvolver um aprimorado processo de colaboração com assistentes para a execução de suas obras.
Desde então, seu pensamento foi progressivamente se sofisticando trabalhando com simetrias, igualdades e desigualdades. Criadas e executadas no atelier no bairro do Itaim Bibi, na capital paulista, seus estudos, trabalhos e pesquisas, subsidiados pelo Conselho Nacional de Pesquisa - CNPq desde 1987, tem na geometria, na simetria e nas suas relações internas dois de seus pilares.
As obras de Lizárraga, principalmente a sua exposição Geografia da linha,  no Centro Cultural São Paulo, de 9 de dezembro de 2006 a 4 de março de 2007, nos faz lembrar de como a arte trabalha muitas vezes próxima da geometria. Idéias matemáticas se fazem presentes na construção de numerosas imagens, com transformações isométricas no plano, conhecidas como translação, rotação, reflexão e reflexão transladada.
  Lizárraga, em suas pesquisas, dentro da sua geometria artística, se vale geralmente desse pensamento simétrico. O uso de diagonais e motivos retangulares, com seus centros reflexos e contornos, se traduzem em padrões. Há ainda a utilização da simetria quadrilateral, refletida nos eixos vertical e horizontal.
  A simetria, dentro do processo criativo do artista, ocorre na reflexão de uma imagem, de modo que ela seja invertida em relação a um eixo, chegando a resultado que é um espelhamento do original, com numerosas variações em que se conhece o pensamento de uma significativa produção, comprometida tanto com a beleza quanto com a forma.
De uma maneira bem abrangente, pode-se dizer que a simetria do criador argentino se faz presente quando uma mudança num determinado sistema visual ocorre sem que as características principais dele sejam alteradas. Assim, uma pequena alteração ganha notoriedade não como mero efeito visual, mas como resultado de uma linguagem.
  Lizárraga mostra clareza no desenvolvimento do conceito de que, em termos artísticos, o fazer simétrico está mais ligado a semelhanças do que a igualdades. Por isso, a criação das mencionadas pequenas alterações geométricas em estruturas simétricas constitui um desafio tanto para o potencial do criador como para a participação atenta do observador.
Se a simetria conduz a noções de equilíbrio, proporção, padrão, regularidade, harmonia e beleza, ordem e perfeição, o trabalho plástico com quadrados, perpendiculares, retângulos, contornos, linhas, cores, círculos, diâmetros, ângulos e paralelas, geram um universo musical.
Quase é possível ouvir o contato estreito entre as linhas de alguns trabalhos em suspiros que se renovam pelo poder da própria retina de aproximar ou afastar contornos de acordo com a forma como eles são relacionados. Geometrias planas e figuras simétricas criadas por eixos em número variável se reproduzem com a capacidade de infinitos espelhos a perpetuar imagens.
Lizárraga apresenta uma poética delicada, quase única em sua consciência extrema de como cada pequena mudança num todo pode gerar sentidos diferenciados. Cria desafio para o olhar, para a consciência e para a emoção, pois há, nos trabalhos, sutis gamas de variações nas composições, perceptíveis não apenas enquanto ludismo plástico, mas, acima de tudo, enquanto irrefutável prova da infinita capacidade humana de criar.