O mistério do olhar
O cotidiano urbano é um dos maiores desafios ao olhar dos artistas plásticos contemporâneos. Desde o atento sentir de Edgar Allan Poe sobre o homem perdido na multidão e autônomo em sua anônima caminhada, uma das grandes questões é entender a miríade arquitetônica em que a cidade coloca o ser humano.
Ana Niski Zveibil oferece a sua resposta pela construção de painéis de fotos em que se evidencia a existência de uma cidade que parece se multiplicar imageticamente. Há possibilidades infinitas de fragmentação e de reconstituição do próprio ato de enxergar aquilo que cerca as pessoas em termos de estímulo visual.
O prédio deslocado ou colocado em ondas de ampla movimentação e sinuosidade aponta para uma mesma problemática: a necessidade de reaprender a sentir o que está ao redor. Mergulhado na cidade, seja ela São Paulo, Nova York ou Berlim, o indivíduo perde até a capacidade de saber onde está.
A arte recoloca essa dificuldade. Nascida em São Paulo, SP, em 8 de dezembro de 1960, Ana Niski Zveibil oferta, pela linguagem da fotografia, um conteúdo que indaga sobre o sentido dos conglomerados urbanos como autênticos quebra-cabeças em que linhas, planos e cores perdem o significado ao serem montados em novas perspectivas.
Os sentidos rígidos que desaparecem permitem, pelos artifícios da mente humana de se valer de recursos artísticos, gerar um ganho, onipresente nos multifacetados conjuntos em que a ruptura da racionalidade visual é feita mantendo a lógica caótica da metrópole como a instauração de um mistério: o do olhar.