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Ana Elisa S. D. Batista

Ana Elisa S. D. Batista

Arqueologia da linha

A manifestação artística, seja no desenho ou na gravura, tem na linha um componente essencial. Essa idéia se torna ainda mais evidente quando se mergulha na poética de Ana Elisa (Zizi) S. D. Batista, criadora que estabelece um mundo visual ímpar.
  Grosso modo, sua produção tem dois grandes universos. De um lado, está aquela motivada pela vivência em São Lourenço da Serra e Itu. São imagens de baratas, lagartas, mariposas, sapos, libélulas e aranhas, realizadas com impressionante percepção.
  Do outro, estão sucessivas paisagens caracterizadas por uma quantidade de minúcias e linhas que configuram variadas composições nas quais se destaca o poder da artista e trabalhar com o buril para obter resultados plásticos diversificados com predominância absoluta da construção apurada.
  A raiz, porém, dessas suas vertentes complementares está nos cadernos da artista. Residem ali centenas de imagens prontas a serem levadas para a discussão técnica da gravura e tudo o que ela abrange, tanto no fazer como no pensar, na pesquisa de soluções e nos resultados obtidos.
  Os pequenos animais que Ana Elisa guarda desidratados, assim como caveiras de cães que foram de sua propriedade, constituem uma linguagem que tem como fundamento o poder de transformar o mundo com um olhar diferenciado por um humor peculiar e inegável amor ao detalhe.
  Uma das imagens mais fortes do caderno é a de uma espécie de dança dos sapos, que pouco tem de macabra, mas apresenta grande ironia nas posições estabelecidas ou na forma de compor grupos de animais marcados pela contorção das figuras e por estranhas imagens que vão do acasalamento ao riso.
  Levar esse universo do desenho para a gravura de modo que satisfaça a artista constitui uma jornada visual arqueológica. Não se trata de mera transposição, mas do desenvolvimento de um pensar que leva a escavar as próprias entranhas e memórias pessoais e visuais. 
  Atinge-se, assim, um impacto que se dá muito menos pelos assuntos escolhidos e muito mais pela técnica aprimorada de Ana Elisa (Zizi) S. D. Batista obtida pela mescla entre uma poética muito própria e a experiência atingida pela prática no ato de lidar com a linha como expressão plástica.