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Ammom de Deus

Ammom de Deus

Telas que desafiam

Seria muito fácil dizer que Amomm de Deus tem tinta em vez de sangue nas veias. Afinal, filho dos pintores naïfs Waldomiro de Deus e Lourdes de Deus, Amomm de Deus correria o risco de ficar marcado por esse parentesco. Não é, no entanto, o que ocorre. Em suas telas, encontra-se não apenas o sobrenome divino e o talento herdado, mas uma forma autêntica de expressão, própria e distinta da que encontramos em seus pais.
Nascido em 1978, na cidade de São Paulo, Amomm trabalha primordialmente com dois tipos de imagens: quadros de maiores proporções em que paisagens naïfs, mescladas com imagens surrealistas, surgem com cores bastante peculiares; e quadros de menores proporções, caracterizados por temas populares e símbolos arquetípicos, como o sol e a lua.
Embora tenha pintado também temas políticos em obras que denotam maior engajamento, Amomm encontra atualmente o florescimento pleno de sua técnica, em imagens que evocam às do pintor belga Henri Magritte naquilo que têm de mais fantástico e surpreendente, ou seja, um genial talento para ver objetos já conhecidos com olhos renovados.
Mesmo quando pinta telas de menores proporções, há em Amomm um elemento fantástico, em que bumba-meu-boi e colheitas se integram com céus límpidos. Sol, lua e estrelas, quando aparecem, não são apenas elementos a enriquecer a paisagem, mas indicam estados de espírito.
A lua, bastante presente na obra do artista, surge como manifestação do inconsciente, uma indagação constante a desafiar. Mesmo que não seja noite ela pode estar presente e lembrar que o artista, independente de suas intenções explícitas, estará sempre sujeito a influências que não pode – nem deve – explicar conscientemente.
Embora as paisagens de Amomm continuem com traços naïfs, o que mais chama a atenção em suas telas são as imagens que pairam num clima fantástico. Inserem-se aí corpos esculturais clássicos e muitas outras imagens de tamanho reduzido que indagam aquele que admira o quadro.
O cineasta polonês Andrzej Wajda, premiado com um Oscar honorário no ano 2000, já disse que "o mais importante é fazer as pessoas pensarem". Referia-se à vertente política de sua obra; porém, o comentário pode ser ampliado para todo tipo de arte que não admita passividade do receptor.
É o que ocorre com as telas de Amomm. Elas desafiam, porque interrogam; e fascinam, porque nos obrigam a oferecer respostas, que variam de acordo com a sensibilidade daqueles que se dispõem a encontrar numa obra de arte uma possibilidade de conhecer melhor ao mundo e a si mesmo.