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Alex dos Santos

Alex dos Santos

Arte visionária

Uma das maravilhas do mundo dos artistas naïfs é que cada um pode – e deve –  desenvolver  o seu próprio estilo sem ter compromisso com os seus antecessores, ou seja, há apenas uma grande regra: ser fiel a si mesmo no trabalho plástico e na maneira de retratar o universo a partir do próprio filtro.
  Nascido em 1980, em Jaboticabal, SP, Alex pinta justamente o mundo como o vê, muitas vezes criticamente, com ironia, outras com alegria de quem encontra nas cores e formas alongadas um legítimo caminho de expressão, uma caminhada marcada pela dificuldade de encontrar materiais, mas valorizada pelo talento e criatividade.
  Basta lembrar que Alex começou sua jornada pela arte, em 1997, com papel sulfite e papelão e tintas muitas vezes recolhidas no lixo. Graças ao incentivo de pessoas como Siegbert Franklin, consegue apoios que lhe permitem acesso a materiais melhores em sua aventura por tornar arte aquilo que pensa.
  Sua grande força está nos quadros mais narrativos, onde diversos fatos ocorrem ao mesmo tempo, surgindo uma crônica de costumes que aponta para as dificuldades da vida cotidiana, como a falta de saúde do povo. Isso, no entanto, não é feito com violência, mas com um senso de humor ímpar, em que o criar é tratado com grande prazer.
  As ações que se desenvolvem em sincronia apontam para a grande capacidade do artista de contar numerosas histórias ao mesmo tempo sem perder o foco em alguns pontos visuais que vão sustentar a obra como um todo. Nesse exercício, muito mais no plano da intuição do que da razão, consegue estabelecer espaços que configuram complexos visuais que exigem visões atentas.
  O termo “visão” não é arbitrário. Há no pintor algo de visionário, não no sentido de prever o futuro, mas de ver melhor o cotidiano e seus absurdos, sem por isso derramar lágrimas. O seu poder derrisório está no riso que escamoteia um esgar de perplexidade com um mundo pleno de situações interrogativas, mas que oferece poucas respostas.
  A arte de Alex propicia uma dimensão fantástica do dia-a-dia. Engolidos pelo cotidiano, muitas vezes nos esquecemos de que a magia da existência está exatamente em ver aquilo que os outros não percebem. O artista tem justamente esse poder. Há nele a criação de uma dimensão diferenciada, onírica, mas com um pé na realidade; misteriosa, mas que nos alerta para a possibilidade de sermos melhores a cada momento; muito própria, mas universalizante em sua estética e preocupações essenciais.