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Agi Straus

Agi Straus

A delicadeza das cores

 
  Para o escritor norte-americano John Updike (1932-1993), “qualquer atividade torna-se criativa e prazerosa quando quem a pratica se interessa por fazê-la bem feita, ou até melhor”. Esse é justamente o caso da artista plástica Agi Straus, que apresenta uma obra de grande delicadeza, seja em sua temática, seja na maneira como trabalha com as cores, geralmente em telas monocromáticas, às quais acrescenta flores secas ou ouriços.
  Nascida em 12 de julho de 1926, Agi, cujo nome de batismo é Agathe Deutsch, aos 12 anos, começou a freqüentar uma escola de arte em sua cidade natal, Viena, Áustria, mas teve que interromper os estudos com a ascensão do nazismo e a perseguição infringida aos judeus. Por isso, ela veio para o Brasil em 1938, começando a desenvolver, na temperatura humana dos trópicos, a sua habilidade natural para desenhar e pintar.
  A artista estudou no Museu de Arte de São Paulo (Masp), com artistas como Darel, Poty e Aldemir Martins, aperfeiçoando-se em afresco com Gaetano Miani, com quem executa um afresco no Palácio do Café, em São Paulo, e realiza estudos de escultura com Zamoisky.
A partir de 1951, passou a se dedicar à literatura infantil, escrevendo e ilustrando livros para a Editora Melhoramentos. Nesse ofício, encontrou um ótimo leque para experimentação, já que trabalhar para jovens é sempre um grande desafio, exigindo, em primeiro lugar, a postura de nunca se acomodar e de manter uma busca constante por novas soluções técnicas e estilísticas. 
  Nesse processo de melhoria da própria técnica, Straus foi coletando um amplo universo de referenciais. Além de morar na Capital paulista, viveu em outras cidades brasileiras, como Belém, Recife, Salvador e São Luiz, desenvolvendo nelas intensa atividade artística. Chegou a fundar e a dirigir, entre 1960 e 1962, a escola infantil “Agi”, em São Paulo, e, entre 1964 e 1970, colaborou com ilustrações no “Suplemento Literário” e no “Feminino” de O Estado de São Paulo.
  Em seguida, fixou residência em Nova York, nos EUA, por alguns anos, onde continuou a produzir e a exibir a sua arte. Nesse período, recebeu muitas influências em sucessivas visitas a galerias, museus e ateliês. Somam-se a essas referências às que absorveu em Roma, Veneza e Bolonha, na Itália e em Jerusalém, cidade da qual provém uma rica fixação na maneira das luzes refletirem nos muros antigos e nas construções.
  As temáticas de Straus refletem essa riqueza e diversidade na sua formação pictórica. Surgem assim cogumelos, raízes, muros antigos trabalhados com texturas muito pessoais, peixes, mar, algas, flores, ouriços e trabalhos com a figura humana. Uma constante é o uso de aplicações de matéria sobre as telas, como conchas e plantas desidratadas. 
  É, todavia, nas cores, que está o grande diferencial da artista. Seus trabalhos tendem a ser monocromáticos, com sutis variações. O uso econômico de traços enche então a obra de vida, pois brota, em cada tela, uma sutil riqueza de variações a partir da imagem fruída pelo espectador.
  O amor à natureza é evidenciado não apenas pela escolha de temática, mas principalmente pelo acabamento formal. Agi faz poesia com as imagens e cores e, ao se debruçar sobre as telas, expressa uma visão de mundo em que a violência não ocupa espaço.  
  As intervenções de folhas, frutos, plantas secas ou ouriços nas telas não ocorrem de uma forma agressiva, mas surgem com extrema delicadeza. São autênticos fetos, cercados por um líquido amniótico de cor, em camadas de tintas sempre dispostas com sensibilidade, criando véus que mais sugerem do que explicitam uma visão de mundo.
  Assim como John Updike acredita na capacidade humana de o artista estar sempre melhorando o seu trabalho, Agi Straus mostra, em cada tela, uma admirável vitalidade expressiva permeada de delicadeza, seja no uso da linha e da cor e, principalmente, no equilíbrio estético de composições pictóricas marcadas pela sensibilidade cromática, coerência formal e habilidade técnica.