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Lirismo em questões de gênero

Lirismo em questões de gênero
23/04/2019

Há muitas maneiras de lidar com as questões de gênero nas artes visuais. Existem formas mais explícitas e formas mais sutis. Muitos preferem um tom panfletário e outros caminham por veredas caracterizadas pela construção de um discurso e um pensamento visual que se cristalizam na própria discussão das mazelas da humanidade – que, aliás, não são poucas.

Juliana Naufel opta por uma feliz imersão nesse universo de maneira bastante pessoal, com repercussão nacional e internacional. Talvez isso se deva a dois fatores que se entrecruzam. De um lado, está o resgate do passado, pela busca e utilização de fotografias antigas, sejam elas próprias ou alheias.

Por outro, temos a inserção da arte têxtil, por meio do bordado de frases que dão às antigas imagens novas conotações. É o texto, em inglês, que dá dimensão universal ao trabalho. A beleza da foto aliada à contundência da frase ressignifica o trabalho e traz á tona uma reflexão sobre a sociedade em que vivemos.

Juliana evidencia algo que a arte muitas vezes esquece: toda manifestação visual é, em si mesma, um fato político, pois obriga a repensar quem somos. E esse pensar demanda rever o passado (as fotos de cenas já ocorridas) e recolocá-lo numa perspectiva presente e futura (a presença das frases). Assim, a artista refaz perguntas e se posiciona cm destaque e lirismo no competitivo cenário da arte contemporânea.

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.