As relações entre a vida e a arte são o ponto de partida da pesquisa visual de Flavio Abuhab. Suas criações discutem o que é arte e, para isso, realiza percursos pelas veredas do que há de melhor sobre essa discussão, com referências mais ou menos evidentes, dependendo o caso, a mestres nacionais e internacionais que discutiram a questão e a mantém em cena.
Há nesse jogo uma reflexão permanente sobre os limites, por exemplo, entre autoria e apropriação. A questão colocada muitas vezes é onde começa o trabalho próprio e morre o do outro? Cada vez se evidencia que esses processos não são excludentes, mas complementares. Numa mecânica antropofágica, o atelier da mente tudo devora e vomita de maneiras distintas.
Trabalhar com quebras de expectativas e inversões de referências consagradas dão às criações de Abubab um sabor de perene renovação. A indagação maior recai sobre qual será o próximo passo. Numa sociedade em que somos alvejados por referências, a construção do próprio repertório é um complexo desafio.
O prazeroso e o belo está em percorrer em veredas como a da imagem que ilustra este post. Suportes como bordado industrial com resíduo de alimentos, tecido e madeira recebem as palavras "Arte" e "Vida". A banalidade e a magia do cotidiano estão aí em forma de arte. É dessa matéria que somos e da qual Flavio Abuhab fala: a do infinito criar sempre, num sutil embate com o mundo que nos alimenta.
Oscar D'Ambrosio, mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura.